terça-feira, 11 de maio de 2010

A Boa Escola

Antônio da Conceição Ferreira

A boa escola faz com que novas sementes nasçam;

Com cuidado o caule cresce.

Chega a estação da árvore florescer.

Graças ao campo fertilizado teremos na safra bons frutos para colher.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Biblioteca Comunitária

Já se encontra em fase de implementação a Biblioteca Comunitária do Projeto Cultura no ônibus.

Além de servir como local de guarda ao acervo de livros a serem distribuídos nos coletivos, a pequena biblioteca disponibiliza, de forma gratuita, os seus livros para a população da comunidade.


Essa nova fase do projeto conta com o apoio de universitários de biblioteconomia na catalogação e disposição dos livros.
A biblioteca contará ainda com uma brinquedoteca, com livros infantis, num espaço reservado para os pequenos leitores.
Muito ainda precisa ser feito. Contamos com a colaboração de todos para a realização dessa obra, de inegável espírito comunitário e de importância para a população menos favorecida.


A biblioteca funcionará no seguinte endereço: AR 11, Conjunto 2, Lote 16, no Bairro Sobradinho II, da Cidade Satélite de Sobradinho (DF).

Poema do Jovem Trabalhador

Por Antonio da Conceição Ferreira

Ó jovem trabalhador!
Desde cedo que tu trabalhas
e lutas por tua sustentação.
Tu lamentas quando vês alguns
no mundo das drogas,
do roubo, do assalto
e da prostituição.

Gosto de ti quando dizes:
falta uma boa cultura social,
sem manipulação e poluição,
para acabar com esse estado
de perdição.

Tu te animas, ao ver de dois em dois anos
certas pessoas cumprimentado o povo
com abraço, aperto de mão
e pedindo apoio ao cidadão,
prometendo-lhe resolver a situação.

Mas não resolve!
Porque quando chega a hora certa,
Cor do textoo lugar certo, o tempo certo,
cruzam os braços,
viram as costas,
esquecem a nação
e entram no mundo
da corrupção.

Te vejo indignado
com essa enganação.
Te admiro porque dizes
que a causa foi o dinheiro privado
investido na eleição.

Sinto por estar pedindo
para acabar com esse mal e dizendo
que o dinheiro público
é a solução.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Idealizador do Projeto

Antônio da Conceição Ferreira
Antônio e seus livros.

Antônio, sua esposa Mary, seu filho Matheus e seus livros.
Clique sobre as imagens para ampliá-las.

O Projeto

1. Introdução

Ciente de que a cultura é um fator de grande importância para a formação do cidadão, para que o homem tenha consciência de si mesmo, para construção do conhecimento, para o entretenimento, para a estruturação de uma sociedade mais igualitária e competitiva e conhecedor de um fato, no mínimo alarmante, de que os brasileiros não possuem o hábito de ler e em muitos casos não compreendem o que lêem, resolvi criar uma proposta que tem como principal objetivo o incentivo à leitura, entendimento, escrita e divulgação da cultura.
Outro aspecto da minha proposta é que os locais escolhidos para oferecer cultura através da leitura são os ônibus do Sistema Coletivo do Distrito Federal, com o intuito, inclusive, de tornar mais aprazível o deslocamento das pessoas que utilizam esse tipo de transporte.

2. Meu Histórico

Tenho 36 anos de idade, nasci no Maranhão e cheguei ao Distrito Federal no ano de 1993, vindo de uma família de humildes agricultores. Estudei em escolas públicas, superando grandes dificuldades, tendo por vezes apelado a colegas para conseguir livros e materiais emprestados para que pudesse seguir com meus estudos. Sempre fui ligado à leitura, apesar de não haver um incentivo a isso nas instituições onde estudei.
Não possuo formação superior mas pretendo avançar com meus estudos até atingir esse objetivo.
Conheço os benefícios que a leitura proporciona ao ser humano e também a dificuldade que as pessoas de baixa renda têm para adquirir livros e terem acesso à cultura.
Trabalho desde o ano 2000 em uma empresa de transporte coletivo na função de cobrador. Nesse contexto convivo diariamente com pessoas humildes, estudantes em busca de seus sonhos, crianças, adolescentes e adultos que muitas vezes percorrem grandes distâncias para irem estudar, trabalhar, passear e que permanecem entre quarenta minutos e uma hora e meia dentro do ônibus, sem opção alguma de lazer ou entretenimento.
Tenho dois filhos e busco diariamente incentivá-los a ler, estudar e produzir conhecimento, pois sei que sem cultura em um ambiente competitivo, como é o mundo de hoje, eles não terão grandes possibilidades de se realizarem.
Acredito muito na leitura como forma de mudança social e busco cada vez mais difundir esse maravilhoso hábidot.

3. Objetivos

O objetivo central do Projeto é incentivar a leitura, a escrita, o entendimento, ampliar os lastros culturais e proporcionar acesso a livros em coletivos.

* Proporcionar aos usuários do transporte coletivo ampliação de seus lastros culturais e a oportunidade de entretenimento, a diversão salutar e descobrimento do maravilhoso mundo da leitura;
* propiciar mais comodidade e tornar mais prazerosas as viagens de ônibus no Distrito Federal;
conceder condições de diversão e novos aprendizados aos usuários de transporte coletivo;
* incentivar o entendimento e a escrita através da proposta de que os leitores que se interessarem produzam resumos dos livros que acabaram de ler. Isso fará com que esses resumos sejam utilizados por outros leitores que terão uma iniciação na leitura através de textos compilados e menores;
* transformar o espaço dos ônibus em verdadeiros pontos de cultura e lazer;
* encontrar e gerar alternativas de sustentação financeira para a viabilização e reaplicação do Projeto;
* oferecer às crianças não-alfabetizadas livros infantis com ilustrações e gibis, para despertar desde cedo o prazer pela leitura;
* promover campanhas para arrecadação de livros e materiais escolares que serão doados a alunos carentes da rede pública de ensino;
* promover ações de arrecadação de livros para ampliação do acervo;
* estabelecer parcerias com livrarias e bibliotecas com o intuito de ampliar e atualizar o acervo disponível, com a contrapartida de divulgar essas instituições dentro dos livros (através de marcadores de páginas) ou mesmo no porta-livros, através de cartazes ou outra divulgação.

4. Público-alvo

Usuários do transporte coletivo do Distrito Federal (crianças, jovens, adultos, estudantes, trabalhadores...).

5. Metas

Estabelecer um porta-livros em pelo menos um ônibus de cada linha (destino) da rede de transporte coletivo do Distrito Federal.
Atender 1000 crianças (em caráter inicial) para serem beneficiadas com as doações de material escolar e livros recolhidos dentro dos próprio coletivos, em campanhas de conscientização de usuários e arrecadação.

6. Desenvolvimento da idéia.

* Serão instalados porta-livros móveis, com capacidade aproximada para 40 peças (entre livros e revistas) dentro dos ônibus;
* serão cadastrados dentro dos ônibus todos os interessados e após esse cadastro será permitido o acesso às obras;
* O usuário terá duas opções (mediante cadastro):
- ler dentro do próprio ônibus ou
- tomar o livro por empréstimo;
* serão disponibilizados espaços publicitários (incluindo os próprios livros através de marca-páginas) para empresas interessadas em apoiar o projeto, que poderão utilizar como ferramentas para divulgação de seus produtos, respeitando sempre a legislação vigente e primando pela ética e pelo bom senso;
* serão criados depósitos centrais nas cidades satélites para armazenamento do acervo a ser colocado nos ônibus. Aos voluntários caberá a atualização dos porta-livros, preferencialmente pela manhã.

7. Recursos Humanos

* Voluntários diversos.

8. Custos (a serem levantados)

* Confecção de porta-livros móveis, em plástico;
* confecção de materiais de divulgação do projeto (cartazes, marca-páginas, folders etc.);
* locações de espaços para armazenamento do acervo (depósito central).

9. Conclusão

Ações como essa são de vital importância para ampliação do acesso à cultura, incentivo à leitura e compartilhamento do saber, portanto conto com o apoio de quem for simpático à causa, para que através da cultura possamos ter uma sociedade cada vez mais igualitária, culta e com senso crítico.
“Um país se faz com homens e livros” (Monteiro Lobato).
Registrado sob número 78.485, em 11.07.2008, no Cartório do 2º. Ofício de Notas, Registro Civil, Registro de Títulos e Documentos, Pessoas Jurídicas e Protesto de Títulos do DF.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Transformando Passageiros em Leitores

Abril 2009
Cristiane Dias
PROFISSIONAL VOLUNTÁRIO

Nome: Antônio da Conceição Ferreira
Formação: Cursando ensino médio
Profissão: Cobrador e Coordenador de biblioteca
Missão: “Conscientizar as pessoas de que a educação é muito importante”
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TRANSFORMANDO PASSAGEIROS EM LEITORES

Antônio da Conceição Ferreira, cobrador de ônibus, saiu do interior dso Maranhão em busca de uma vida melhor em Sobradinho II, Brasília, DF. Ele sempre teve o sonho de estudar e crescer, mas viu as coisas mudarem quando precisou escolher entre os estudos e o trabalho.
A necessidade realmente era mais forte e o trabalho foi o escolhido, porém o sonho de estudar nunca foi deixado de lado. Mesmo trabalhando como cobrador, ele uniu o útil ao agradável. “Uma vez coloquei um livro em cima da bancada de dinheiro e uma senhora viu e me perguntou: ‘- Cobrador você gosta de ler?’”, conta Antônio que, a partir disso, começou a ganhar livros dos passageiros.

Cultura no Ônibus – Com o tempo ele deixou de ter apenas cinco, seis ou sete livros, mas passou para quatro mil títulos que estão distribuídos na sua casa, em um quarto alugado e no ônibus. “A biblioteca surgiu depois de não ter conseguido apoio de algumas instituições, então achei que o transporte seria uma opção para incentivar e conscientizar as pessoas de que a leitura é muito importante”, afirma.
A biblioteca, que funciona dentro do ônibus, está acessível a todos os passageiros. Basta escolher um título, pegar no porta-livros localizado próximo ao cobrador, assinar uma ficha, ler e devolver. Há quase um ano Antônio organiza essa biblioteca e até hoje só recebeu elogios e, por incrível que pareça, nenhum “prejuízo”. A linha 82, Núcleo Bandeirante, nunca mais foi a mesma depois dessa ação. Já foram realizados mais de 800 empréstimos de livros e a satisfação dos passageiros é geral.
Mas não para por aí, Antônio deseja ampliar o Projeto. Hoje, a ação é desenvolvida apenas em um ônibus, porém o objetivo desse trabalho é muito maior. “Tenho como meta colocar um porta-livros em pelo menos um ônibus de cada linha do transporte coletivo”, afirma o voluntário que aposta na leitura como uma forma de mudança social.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Biblioteca Sobre Rodas

25.01.2009
Chamada de Capa

Mara Puljiz

Dizem por aí que o brasileiro não gosta de ler, mas pelo Brasil afora é possível encontrar gente que prova o contrário. E não é preciso ir muito longe. No Distrito Federal, pessoas anônimas incentivam o gosto pelos livros. É o caso do cobrador de ônibus Antônio da Conceição Ferreira, 36 anos. Há apenas cinco meses, ele não apenas cobra a passagem, mas incentiva a leitura dentro do coletivo. Antônio montou em seu ambiente de trabalho uma verdadeira biblioteca itinerante e disponibiliza cerca de 40 livros para que os usuários possam ler durante toda a viagem.
A iniciativa tem dado certo. Os livros ficam pendurados em um plástico fixado ao lado da roleta. Quem passa por ela se depara com uma gama de exemplares de autores renomados como Jorge Amado, Paulo Coelho e Machado de Assis. “Não pode ser qualquer leitura, né?”, acredita ele.
Antônio trabalha por escala, em horários diferentes, na linha 82 – Núcleo Bandeirante, Metropolitana. Desde quando começou com o projeto, em agosto do ano passado, o cobrador recebeu inúmeras doações. Em casa, ele acumula mais de 6 mil exemplares entre livros literários, didáticos e de autoajuda de autores consagrados.
Para guardar tanto volume, Antônio precisou alugar um cômodo no bairro onde mora, em Sobradinho II. Com o salário de R$ 579 ele paga R$ 280 de aluguel de sua casa e R$ 120 em um quarto destinado especialmente para guardar 4 mil dos 6 mil livros.
A idéia de levar cultura para dentro do ônibus surgiu depois que ele deixou um livro em cima do caixa. “O passageiro passava olhando e comecei a observar isso”, contou. Desde quando começou com o projeto, o cobrador já emprestou cerca de 800 exemplares aos passageiros. A pessoa anota onome em uma ficha e, assim, pode levar o livro para casa, mas com o compromisso de devolução. Por enquanto, todos têm cumprido o acordo.

Aprovação

Dentro do ônibus os usuários aprovaram a atitude do cobrador. “De início parece uma idéia maluca, mas tem um significado muito importante. É o primeiro passo de uma grande obra. Se todo mundo fizesse um pouquinho o mundo seria bem melhor”, elogiou o servidor público Paulo Pereira Costa, de 60 anos.
A secretária Maria Dias, de 43 anos, também aprovou. "Quando entrei no ônibus pela primeira vez eu dei parabéns para ele. Gosto muito de ler e o tempo dentro do ônibus passa mais rápido", destaca. Não apenas os adultos podem se distrair e acumular conhecimento. No plástico onde ficam os livros, uma parte foi reservada para as crianças, que encontram gibis com história em quadrinhos e contos infantis que chamam a atenção.
A paixão pelas letras começou quando ainda era criança. Antônio morava com os irmãos e os pais no interior do Maranhão quando passou a se interessar pela leitura. Ir para a escola era o momento mais esperado do dia. “Sempre
gostei de ler, mas meu pai não tinha condições de comprar livros e eu pedia emprestado para os outros”, relembra. Atualmente, ele se esforça para ler pelo menos um livro por semana. “Queria ter mais tempo, mas para o trabalhador isso não é fácil”, explica.
Agora, o cobrador alimenta o sonho de expandir o projeto de leitura para as demais linhas de ônibus do Distrito Federal. Se depender da força de vontade isso não vai ser problema. "Minha satisfação é essa. A pessoa lê e se enriquece com conhecimento e fico feliz quando vejo alguém lendo. Aqui é apenas o ponto de partida", promete, com ares de sonhador. A única certeza de Antônio é a de que tem percorrido o caminho certo. "O estudo é o que vai dar uma vida melhor para a gente", disse, como alguém que tem a sensação de dever cumprido.

Clique sobre as fotos para ampliá-las.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Ônibus Agora é Sala de Leitura

10.01.2009
Cobrador oferece aos passageiros da linha 82, do
Núcleo Bandeirante, uma nova biblioteca ambulante

O cobrador Antônio Conceição, 36 anos, transformou o coletivo que faz a linha 82, para o Núcleo Bandeirante, em uma pequena biblioteca sobre rodas. O projeto iniciado por ele em fevereiro do ano passado é um sucesso e só foram registrados, até agora, dez casos de pessoas que não devolveram livros.
“Não há título e estilo específicos preferidos pelo público. Em geral os passageiros analisam a espessura do livro. Quando a obra é fina, aproveitam o percurso do ônibus para devorá-la. Quando é mais grossa, levam para casa para concluir a leitura com mais tempo”, disse.
A idéia do projeto, intitulado Cultura no Ônibus, partiu do próprio Antônio, que sempre gostou de ler, mas durante a infância encontrou sérias dificuldades por ter estudado em colégio público no Maranhão. Lá ele tinha de pegar emprestado. Ele continua apreciando a leitura, mas atualmente falta-lhe tempo para se dedicar mais, o que lamenta. “Só a educação traz bons frutos para o ser humano”. Capitães da areia, de Jorge Amado, foi o pontapé inicial do projeto. Graças a uma senhora que se interessou pelo livro levado por Antônio, a idéia prosseguiu. Sua primeira doação foram de três livros e o cobrador até hoje agradece àquela senhora: “Ela me deu o incentivo necessário para prosseguir com minha idéia”, diz Antônio, que aproveita para pedir mais doações. Qualquer pessoa pode doar livros, desde que tenha interesse pelo projeto. Basta ligar para o telefone 9195-5023 e falar com o próprio Antônio.
Novos investimentos na Educação
A meta do cobrador é abranger todas as linhas do transporte coletivo do Distrito Federal. Falta a Antônio, sobretudo, espaço físico. Pelo restante ele se responsabiliza e defende que o incentivo à leitura começa em casa. Para este obstinado cobrador, não basta só a escola estimular o hábito da leitura em seus alunos. Quanto ao governo, ele sugere que crie mais espaços para leitura: “Se dedicar sempre mais ao investimento na educação”. Antônio é um cidadão consciente e o objetivo o é levar a todas as classes sociais e faixas etárias o que um dia ele tanto quis e não teve oportunidade de conseguir. “Meu maior retorno é o prazer de difundir a cultura e estimular outras pessoas a fazerem o mesmo. Graças ao meu incentivo, meu filho hoje tem muito mais prazer pela leitura”, afirma.

Leitura Sobre Rodas

10.01.2009
Chamada de Capa

Cobrador aproveita a necessidade de distração dos passageiros e monta uma biblioteca na linha 82. Agora ele quer expandir sua idéia para todo o transporte coletivo do DF.

Henri Thiago Peres

O cobrador Antônio Conceição, 36 anos, está colecionando passageiros da leitura. Morador de Sobradinho II, um dia ele levou o exemplar de um livro para o ônibus em que trabalha, percebeu o interesse dos usuários em uma distração durante a viagem e descobriu que poderia quebrar a monotonia de quem faz a linha 82. Passou então a pedir doações de obras, o que resultou em um acervo de sete mil exemplares.
Resultado: transformou o coletivo em uma pequena biblioteca sobre rodas. Os livros estão divididos entre sua casa e um espaço alugado em frente. Mas viajam, de mãos em mãos, no percurso Via Metropolitana (Núcleo Bandeirante) ao Viaduto de Saan (perto do Cruzeiro). Isso porque os passageiros interessados podem levar os livros para casa e devolver quando puderem e quiserem, a custo zero. Basta que preencham uma ficha com seus nomes e os títulos das obras. O interessante é que a iniciativa dele começou em fevereiro do ano passado e só foram registrados dez casos de pessoas que não devolveram os livros.
Não há um título e estilo específicos preferidos pelo público. Em geral os passageiros analisam a espessura do livro. Quando a obra é fina, aproveitam o percurso do ônibus para devorá-la. Quando é mais grossa, levam para casa para concluir a leitura com mais tempo.
A idéia do projeto, intitulado Cultura no Ônibus, partiu do próprio Antônio, que sempre gostou de ler, mas durante a infância encontrou sérias dificuldades por ter estudado em colégio público no Maranhão. Lá ele tinha de pegar emprestado. Ele continua apreciando a leitura, mas atualmente falta-lhe tempo para se dedicar mais, o que lamenta. “Só a educação traz bons frutos para o ser humano”, filosofa o cobrador.
Capitães da Areia, de Jorge Amado, foi o pontapé inicial do projeto. Graças a uma senhora que se interessou pelo livro levado por Antônio, a idéia prosseguiu. Sua primeira doação foram de três livros e o cobrador até hoje agradece àquela senhora: “Ela me deu o incentivo necessário para prosseguir com minha idéia”, diz Antônio, que aproveita para pedir mais doações. Qualquer pessoa pode doar livros, desde que tenha interesse pelo projeto. Basta ligar para o telefone 9195-5023 e falar com o próprio Antônio.

Difundir a cultura é o maior retorno

O cobrador só deu andamento ao projeto após concluir que não conseguiria apoio de ninguém e teria de realizá-lo por conta própria. Quando experimentou a idéia e deu certo, passou a se dedicar a ela integralmente. E pretende se dedicar ainda mais, já que sua meta é fazer a idéia tomar maiores proporções gradativamente até abranger todas as linhas do transporte coletivo do Distrito Federal. Falta a Antônio, sobretudo, espaço físico. Pelo restante ele se responsabiliza. Mas não pretende pedir ao governo local algo que gere despesas. (*)
Antônio defende que o incentivo à leitura comece em casa, onde os pais devem mostrar aos filhos o que a educação pode oferecer. Para este obstinado cobrador, não basta só a escola estimular o hábito da leitura em seus alunos.
Quanto ao governo, ele sugere que crie mais espaços para leitura, como ele mesmo diz: “Se dedicar sempre mais ao investimento na educação”. Antônio é um cidadão consciente e sem interesses. Sua única meta é levar a todas as classes sociais e faixas etárias o que um dia ele tanto quis e não teve oportunidade de conseguir. “Meu maior retorno é o prazer de difundir a cultura e estimular outras pessoas a fazerem o mesmo. Graças ao meu incentivo, meu filho hoje tem muito mais prazer pela leitura”, afirma.
(*) Há aqui um mal entendido quanto a interpretação do articulista. A idéia do Projeto é "não dar despesas para empresas". Ao Governo cabe apoiar com incentivos e recursos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cobrador de ônibus leva o mundo dos livros aos passageiros

DF TV - 1a. Edição - 02.01.09
Carlos de Lannoy / Romildo Gomes
Antônio cresceu trabalhando na roça, no interior do Maranhão. “A gente chegava à tardezinha e ia ao colégio. Interessado mesmo, sabe? Eu sempre digo que só a educação dá uma vida melhor para o ser humano, né?”, conta o cobrador de ônibus Antônio Conceição Ferreira.
Vida melhor é um quarto e sala, no fundo de um terreno, onde mora com a mulher e dois filhos, o emprego de cobrador e os livros. “A minha idéia começou quando eu coloquei um livro em cima da caixa do cobrador. O passageiro olhava, lia o título. Eu ficava só observando”, lembra.
Só que Antônio também era observado: “teve uma senhora, passageira, que ficou olhando, chegou perto e perguntou se eu gostava de ler”.
Um dos livros que ganhou da passageira foi Capitães de Areia, que deu novas certezas pra Antônio. “Eu fiquei preocupado com os meus filhos, de ver a história daquele livro”, diz.
Da certeza, uma ideia. “O ônibus tem espaço suficiente pra levar a cultura, a leitura, aos pais de família, para que assim eles estimulem os seus filhos”, afirma.
E de doação, em doação, de repente Antônio tinha uma biblioteca em sua casa e um leitor muito especial. “Eu sempre falava para o meu filho escolher um livrinho interessante pra ler”, lembra. “Eu gosto de ler o livro de carros, do Saci e do Curupira”, diz Matheus Lopes Ferreira, 8 anos.
Os vizinhos foram chegando. “Eu achei essa ideia maravilhosa. Pelo livro a gente tem pra ler”, afirma o colega cobrador Luiz Gonzaga.
Plásticos protegem da chuva dezenas de romances, livros de alto ajuda e a coleção completa de Jorge Amado. A biblioteca cresceu e foi descolada para o outro lado da rua, num quartinho alugado. São pilhas e mais pilhas de livros e revistas, quatro mil títulos que valem mais que o salário de R$ 569.
“Eu pago o aluguel de R$ 280, tiro R$ 120 para pagar o lugar onde fica o acervo e o resto é pra dar o sustento pra minha família”, conta o cobrador.
Com o acervo garantido, Antônio levou a paixão pra o local de trabalho. Livro de graças para os passageiros lerem durante a viagem ou levarem pra casa. No início, ele ficou com medo de fixar o porta livros no ônibus, achou que alguém poderia até reclamar. Mas, a biblioteca itinerante já tem quase um ano e, até agora, o cobrador só tem recebido elogios.
“Mesmo de pé, com o ônibus lotado, sempre pego um livro. O tempo passa mais rápido”, diz a operadora de telemarketing, Adriana Leandro.
Quem pegar um livro pra ler precisa anotar o nome em uma ficha e só devolve quando quiser. “Não cobro nada. É apenas um incentivo pra leitura, para o trabalhador tenho um poder crítico, que incentive os seus filhos para o caminho da educação”, enfatiza Antônio Conceição.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

É de Ônibus? Tô Dentro!

Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Educação da UNB/DF
Setembro de 2008 – Ano II – Edição 04
Seção PALAVRAS CRUZADAS

Isabella Meneses

O transporte coletivo sempre está me surpreendendo. Entre uma baratinha andando na parede e uma suntuosa tela plana passando amenidades, me deparei outro dia com a melhor surpresa delas. E falo no melhor sentido possível. Foi só rodar a roleta e, quando sentei, antes mesmo de imaginar o resto do percurso entediante da minha viagem, avisto um porta livros repleto de títulos instigantes. “Poxa, que ótimo” – pensei. O próximo passo foi sentar ao lado do cobrador e puxar o assunto.
- Esses livros... qual é a idéia?
Muito animado, esse cobrador mostra a sua graça. E com certeza não é só dar o troco:
“O nome do Projeto é Cultura no Ônibus”, diz Antônio, 36 anos, morador de Sobradinho II. “Pago um aluguel para guardar um acervo de mais de quatro mil livros”, comenta orgulhoso, porém nem tão satisfeito...
Antônio defende a sua idéia com a maior disposição. Não se rogou a registrar a autoria do Projeto. Mas, também, desconfio que não falte quem gostaria de ter inventado essa idéia.
“Como funciona?” perguntei interessada.
“O passageiro faz um cadastro e pode ler o livro no ônibus e até levar pra casa. Se a pessoa precisar de algum livro ou autor, pode até me ligar que verifico no acervo e trago para cá”, responde muito solícito.
A conversa e a viagem prosseguem. “O passageiro não tem acesso à bibliotecas. Muitas vezes, por motivo de horários, sai e chega em casa e não há tempo para mais nada. Aqui o passageiro só paga a passagem para fazer o seu trajeto habitual e pode ter esse acesso”, explica.
Realmente só nos resta comemorar. Ter à mão um bom livro é ter um companheiro de viagem. E não digo só por mim. Antônio acredita que o Projeto é capaz de motivar e aproximar os passageiros ao rico universo da leitura. Ao montar o pequeno acervo itinerante escolhe uma variedade de tipos de leitura, para que atraia as diversas idades.O Projeto Cultura no Ônibus é uma iniciativa autônoma. Mas espera parceria de instituições que puderem colaborar. Já conta com voluntários animadores da idéia. Antônio espera parcerias que possam ampliar o atendimento e as dimensões do Projeto. A meta esperada é instalar um porta-livros em pelo menos um ônibus de cada linha. Nem preciso dizer que adorei essa viagem!